A nutrição oncológica é a área da nutrição que cuida da prevenção e também do tratamento de pacientes com câncer a partir de uma alimentação adequada.

Os nossos hábitos têm a ver com a origem de vários tipos de câncer, e o que se come nas refeições, tem um papel relevante para isso.

Além do mais, a genética tem também influência, predispondo o organismo ao desenvolvimento tumoral.

Nesse contexto, a nutrigenética tem sido um aliado na elaboração de meios que permitem uma abordagem clínica detalhada, ajudando a nutrição oncológica.

Neste artigo trouxemos para você um panorama geral sobre este assunto com a participação especial da nutri Kelly Oliveira, especialista na área. Confira! 

Nutrição e câncer

Ao contrário do que muita gente pensa, grande parte dos cânceres são oriundos de fatores ambientais nos quais o estilo de vida, alimentação e exercícios físicos são importantes.

E a nutrição ocupa um papel chave na prevenção do câncer.

Assim, durante o tratamento, os pacientes tem sintomas que levam à diminuição da ingestão diária de nutrientes e calorias.

O que ajuda para a queda do estado nutricional.

Dessa forma, esse déficit nutricional está ligado com a diminuição da resposta ao tratamento e com a qualidade de vida.

Abordagens da nutrição oncológica levam em conta pequenas e constantes modificações da dieta, como aumento da densidade calórica e proteica, adequação da consistência às preferências e palatabilidade do paciente, bem como o aumento do fracionamento alimentar.

Essas são estratégias rotineiramente utilizadas durante o tratamento antineoplásico.

Nutrição oncológica e genética

Primeiramente, o diagnóstico oncológico se faz por um compilado de avaliações, dentre elas os exames de imagem e a avaliação de sinais clínicos.

Os testes genéticos e o diagnóstico molecular são muito importantes pois são determinantes para a decisão terapêutica a ser tomada pelo oncologista.

Diante ao cenário atual da nutrição oncológica, o conhecimento de nutrigenética permite ao nutricionista uma abordagem personalizada.

Assim, identificando como o paciente poderá tolerar e reagir aos efeitos sistêmicos do tratamento multimodal (quimio e radioterapia principalmente).

Conhecendo como são os processos de detoxificação, tanto quanto, a capacidade de metabolização de vitaminas, a eliminação de radicais livres, e necessidades nutricionais específicas.

A partir do painel nutrigenético, é possível traçar um plano alimentar que atenda de forma ideal o objetivo final do tratamento.

Por exemplo, os mecanismos de reparo no DNA, cujas falhas podem levar ao desenvolvimento tumoral, são mais efetivos de acordo com um maior consumo de alimentos protetores, com um estilo de vida saudável, como a nutrição oncológica requer.

E a prevenção do câncer passa por uma série de mudanças de hábitos que vão desde a melhoria na qualidade e horário do sono, a frequência e volume adequado de uma dieta padrão que beneficiem a eliminação de toxinas e reduzam os riscos de desenvolvimento de doenças crônicas.

Conseguir achar precocemente quais são os gatilhos genéticos que favorecem os mecanismos de desenvolvimento de cânceres nos da uma ferramenta que permite uma abordagem nutricional, capaz de “desligar” os estímulos negativos e otimizar os positivos que levam a uma boa saúde.

Genes e a Nutrição Oncológica

Vários genes são importantes para avaliar os pacientes de acordo com a nutrição oncológica.

Dentre eles os relacionados à necessidade de ômega-3 (FADS-1), de antioxidantes (SOD2, CAT, GPX1) e das vitaminas B9 e D (MTHFR e VDR), além dos genes que inferem a capacidade de detoxificação (EPHX1, CYP1A2, GSTM1, GSTT1), outros que também são comumente analisados e com aproveitamento nutricional importante são:

  • FTO: indica uma relação emocional com a comida e capacidade de “retenção” de gordura com menor capacidade de utilizá-la como fonte de energia;
  • MC4R: relacionado ao comportamento alimentar, popularmente conhecido por acionar um comportamento de “boca nervosa”, em que o paciente passa grande parte do dia beliscando muito e preferindo comidas com sabor mais palatável à base de molhos cremosos com dificuldade para aceitar sabores mais delicados;
  • TNF e IL-6: demonstram o potencial inflamatório dos pacientes, muito sensível durante o tratamento oncológico (alvo de nossas terapêuticas continuamente); 
  • MCM6: sinaliza intolerância à lactose e permite que o direcionamento para exclusão de produtos com lactose seja a escolha ideal – assim os efeitos gastrointestinais não sejam confundidos com efeitos colaterais do tratamento em si.

Genética e estratégias nutricionais

Portanto, na nutrição oncológica, são muitas as possibilidades de adequação dos mecanismos genéticos através da alimentação.

Desse modo, aqui abaixo alguns exemplos de algumas estratégias que podem ser usadas:

  • uso de fibras para promoção da saciedade precoce e evitar a “fome de rebote” em pacientes com polimorfismos de risco para o gene FTO.
  • o “comer com atenção plena” (ou mindful eating) são determinantes para a modulação do gene MC4R e evitar o ‘beliscar’ frequente.
  • a aplicação de um padrão alimentar antiinflamatório, como o padrão mediterrâneo, junto com suplementações com posologia são capazes de melhorar a capacidade cognitiva, inflamatória em geral.

São várias as possibilidades para adaptação alimentar, sobretudo, que favorecem a saúde do organismo.

Por fim, com a avaliação e o acompanhamento de um nutricionista especializado, a qualidade de vida e seus resultados serão incríveis.

Pode confiar!

Kelly Oliveira
Nutrigeneticista, mestre e doutoranda em Oncologia e Ciências Médicas (UFPA)
Especialista em Nutrição em Oncologia e ​Terapia Nutricional (Hospital A.C. Camargo​​ e GANEP), e em Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE/BRASPEN)