Dentre as condições clínicas mais importantes nos atendimentos nutricionais está a obesidade. Apesar da causa multifatorial, existe forte ajuda dos fatores genéticos no desenvolvimento dessa doença. Além disso, as abordagens clínicas que relacionam nutrigenômica e obesidade são importantes.

Alguns genes influenciam diretamente a forma como o organismo metaboliza e reage ao consumo alimentar.

Porém, a genética por si só não determina o destino de ninguém!

Através da nutrigenômica o profissional capacitado pode melhorar os efeitos dos genótipos de risco e modular a expressão gênica do seu paciente.

Quer entender melhor como a nutrigenômica pode auxiliar pacientes com obesidade? 

Então continue aqui comigo! 

Nutrigenômica e obesidade: qual a relação?

Você já percebeu que alguns pacientes têm dificuldades na perda de peso, mesmo cuidando da alimentação e mantendo prática de atividades físicas regularmente?

Enquanto outros pacientes possuem uma alimentação desregrada, com alto consumo calórico e sem uma rotina de atividades físicas, mas nunca tiveram problemas com sobrepeso?

Isso pode acontecer devido a polimorfismos genéticos relacionados a quantidade de gordura corporal e à metabolização de macro e micronutrientes, por exemplo. 

Pessoas com predisposições genéticas em genes que atuam nesses processos correm mais risco de apresentarem excesso de peso ao longo da vida e todas as patologias em função disso, como as doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, e a síndrome metabólica. 

Contudo, a predisposição genética não é definitiva. O profissional que conhece a nutrigenômica consegue trabalhar com fontes alimentares específicas e, com a modulação da dieta, hábitos de vida e microbiota intestinal, que irão alterar a expressão gênica de cada paciente.

O que é possível saber sobre a obesidade através da nutrigenômica?

A nutrigenômica é a ciência que estuda o funcionamento e a interação do genoma humano com os nutrientes ingeridos. Através dela, podemos entender como os nutrientes e compostos bioativos dos alimentos participam no processo de expressão gênica. 

A expressão gênica pode ser modulada de forma direta ou indireta. A primeira irá diretamente no processo de transcrição, enquanto a segunda ativa cascatas de sinalização celular, com ativação progressiva de proteínas, que resulta na translocação do fator de transcrição do citoplasma para o núcleo, induzindo a transcrição.

Sendo assim, esse campo de estudo explora como os alimentos podem gerar mudanças no fenótipo dos indivíduos. Conhecer o genótipo do seu paciente permite que você possa antecipar predisposições de risco, e realizar prescrições que buscam melhorar a saúde e prevenir doenças por meio da personalização da dieta. 

Antes de tudo, para identificar a predisposição genética do seu paciente, é necessária a realização de um teste nutrigenético. Assim, com o resultado da análise genética proporcionada pelo teste, será possível iniciar uma conduta nutricional muito mais correta.

Conheça alguns dos genes relacionados:

FTO

O gene FTO é tido como “o gene da obesidade” pois está ligado à massa gorda em crianças e adultos. Ele é responsável pela síntese da enzima desoxigenase dependente de alfa-cetoglutarato, que é particularmente ativa no cérebro em áreas juntas à compulsão alimentar, sensação de fome e saciedade, e escolha de alimentos.

MC4R

Em primeiro lugar, o MC4R é um dos que mais influenciam na genética da obesidade. Ele está ligado à produção de energia e ao acúmulo de gordura, podendo levar ao aumento da gordura corporal.

APOA2

O gene APOA2 está ligado ao transporte de colesterol e à sensibilidade a gorduras. Variações neste gene podem afetar os níveis de produção da lipoproteína APOA2 e causar hipercolesterolemia. 

CLOCK

O gene CLOCK está relacionado à regulação do ciclo circadiano, influenciando os hábitos alimentares noturnos. Embora ele não esteja diretamente relacionado à composição da gordura corporal, polimorfismos nesse gene podem dificultar os processos de emagrecimento e influenciar nas sensações de fome, saciedade e compulsão alimentar (principalmente nos cronotipos noturnos).

ACE

Assim como o CLOCK, o gene ACE não atua diretamente na determinação da predisposição à obesidade. No entanto, influencia na capacidade de metabolização de carboidratos e resistência à insulina.

PPARG

O gene PPARG é responsável por codificar um receptor encontrado no núcleo das células, sendo importante na formação e desenvolvimento das células de gordura (adipócitos). Eventualmente, ele pode influenciar no metabolismo da glicose, podendo causar excesso de gordura corporal, dependendo do estilo de vida.

TNF-α e IL-6

Os genes TNF-α e IL-6, também podem ajudar para ganho de peso, principalmente quando se tem péssimos hábitos alimentares. Isso porque  polimorfismos nesses genes predispõem à inflamação sistêmica aumentada. 

Quais nutrientes são aliados da nutrigenômica no tratamento da obesidade?

Alguns alimentos são tidos como funcionais por terem propriedades que oferecem benefícios adicionais à saúde, além de suas funções nutricionais básicas. 

Os compostos bioativos, por exemplo, estão presentes em vegetais e frutas que modulam vias metabólicas, e assim ajudam a prevenir a obesidade, diabetes tipo 2 e aterosclerose.

Um tipo desses compostos são os polifenóis, como o resveratrol, a curcumina, as antocianinas e os flavonóides, sendo que cada um deles atua de forma diferente, trazendo melhorias.

Estudos mostraram que por exemplo, o resveratrol, composto bioativo presente no vinho tinto e na uva, inibe a ação de citocinas pró-inflamatórias e acaba a ativação dos fatores de transcrição NF-KB, levando a um efeito anti-inflamatório na obesidade. 

Outros exemplos de compostos benéficos são:

  • quercetina (presente nas frutas cítricas e na maçã)
  • licopeno (presente no tomate, melancia e goiaba) que ajudam a equilibrar a resposta inflamatória por impedir a expressão de genes, como o que codifica a enzima COX-2.

O ácido graxo ômega-3, também é relevante, pela sua influência na expressão de mais de mil genes, muitos dos quais apresentam propriedades antiinflamatórias.

Como a obesidade tem por base o aumento do tecido adiposo, que colabora com ambiente inflamatório, apostas nesses compostos pode trazer excelentes resultados aos pacientes. Mas o que importa é estudar caso a caso para estabelecer o uso ideal.

Emagrecimento, Nutrigenômica e obesidade 

Se o seu paciente apresenta predisposição genética de risco, já está com sobrepeso e quer emagrecer, o melhor a se fazer é incentivar a mudança de hábitos, a começar pela alimentação. 

Com um bom planejamento alimentar e dando ferramentas, métodos e informações (como os testes genéticos), você poderá melhorar aos poucos a condição dos pacientes com obesidade, fazendo com que a genética que predispõe a essa doença seja “controlada”.

É importante também de estimular a prática de atividades físicas. Nesse sentido, indique algo que seu paciente sinta prazer em fazer, como dança, natação, ou futebol com os amigos… até uma simples caminhada poderá fazer diferença.

Profissionais da nutrição que buscam por novos métodos de personalização da conduta clínica já podem aprender e devem, do mesmo modo, começar a aplicar os conhecimentos da nutrigenômica na prática clínica.

Lembrando sempre que a construção de novos hábitos exige tempo e resiliência para que, a longo prazo, estes comportamentos possam trazer grandes mudanças para cada paciente, impactando positivamente na sua saúde. 

Referências

Rodrigues et al. Nutrigenômica: Contribuições para prevenção e tratamento da obesidade. Congresso Brasileiro de Ciências da Saúde. 

Bastos et al. Mecanismos de ação de compostos bioativos dos alimentos no contexto de processos inflamatórios relacionados à obesidade. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolismo, 2009. 

Steemburgo et al. Gene-nutrient interaction and its association with obesity and diabetes mellitus. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolismo, 2009.