O treino físico está ligado ao bom desempenho em qualquer modalidade esportiva. E isso não é nada diferente no futebol.

Mas o que a genética tem a ver com isso?

Para entender a relação entre genética, exercício físico e futebol, é bom relembrarmos conceitos que todos aprendemos ainda no ensino fundamental: genótipo e fenótipo.

Confira o artigo do especialista Ricardo Bottura até o final e descubra!

Genótipo, fenótipo e futebol

De forma simples, genótipo é a herança genética dos nossos pais, sendo formado por dois alelos, que são as informações dos genes de cada um. 

O fenótipo, por sua vez, é o resultado da expressão dessas informações.

É como a história dos famosos A e a, e sua relação com a cor dos olhos, que aprendemos nas aulas de ciências, na escola.

Os genótipos, neste caso (AA, Aa e aa), são resultados da combinação dos dois alelos (A e a), sendo que a expressão deles é que geram os fenótipos diferentes (olhos claros ou olhos escuros).

No esporte, a cor dos olhos pouco importa, mas tem outros genes que influenciam ou são influenciados pelo treinamento, podendo ajudar ou dificultar o caminho até as adaptações desejadas por um atleta.

Imagine um gene que esteja ligado com:

  • maior quantidade de fibras de contração rápida (ACTN3);
  • com a capacidade de captar lactato pelas próprias fibras musculares (MCT1); 
  • a regulação da pressão arterial (AGT, ECA); 
  • a vasodilatação (BDKRB2, NOS3);
  • a formação de novos vasos sanguíneos (VEGF-A);
  • ou até mesmo com atividade hormonal (ADRB2).

É de se pensar que pequenas variações nos genótipos destes genes podem favorecer ou prejudicar um atleta a treinar e desenvolver diferentes capacidades físicas, certo? 

É exatamente isso!

Quanto mais as variações genéticas de um atleta se aproximarem de um efeito ótimo no organismo, melhor será a sua treinabilidade.

Porém, para julgar essa “eficiência genética”, é necessário entender quais capacidades físicas devem ser desenvolvidas.

Isso porque alguns genótipos podem estar relacionados com maior treinabilidade de força e potência, enquanto outros podem estar ligados mais com resistência, por exemplo.

E isso também acontece no universo futebolístico.

Aplicação prática da genética no esporte

Em esportes coletivos acíclicos, como o futebol, onde os jogadores tem diferentes tarefas táticas, com diferentes exigências físicas e metabólicas, entender o perfil genético de cada atleta poderá fazer a diferença para a prescrição dos treinos pelo preparador físico.

Isso ajuda a otimizar o desempenho dos atletas e para o técnico, que poderá definir melhores variações táticas, explorando o melhor de cada jogador.

Durante as partidas, os jogadores são desafiados a realizar tudo o que foi treinado previamente, seja taticamente ou fisicamente.

Mas quando os treinos levam em consideração o perfil genético de cada atleta, seus potenciais podem ser mais facilmente desenvolvidos.

Imagine um centroavante, que tem um perfil de menos força e mais resistência, e o técnico, por causa de sua altura, o coloque entre zagueiros para disputar espaço corpo a corpo.

Com isso!

É provável que o jogador não tenha tanto sucesso.

Em contrapartida, se ele for treinado para se movimentar sempre, poderá usar seu potencial de resistência para abrir espaços para outros jogadores. 

Desse modo, é aí que o trabalho do preparador físico casa com o do técnico na questão genética!

Ao saber que um atleta tem maior potencial de suportar cargas de alta intensidade, devido ao seu genótipo do gene ACTN3, o preparador físico pode tentar deixar ele mais explosivo para tiros de 10 a 20 metros.

Agora, dependendo do genótipo do gene MCT1, é possível que este atleta consiga manter o tiro por maiores distâncias com menos fadiga, sendo um grande escape para um contra-ataque rápido.

Já um jogador com boa vascularização (informação do gene VEGF-A) e boa vasodilatação pela combinação de diversos genes (informações dos genes AGT, ACE, BDKRB2, NOS3), poderá ser o “motor” do time.

Aquele que sempre parece estar na hora certa, no momento certo, fechando espaços e criando jogadas, pois tem enorme potencial fisiológico para essa função.

Mas a genética entrega a real condição do atleta?

Você deve ter percebido que sempre que eu falei sobre os genes e os genótipos, estava me referindo ao potencial.

É proposital, pois para que o desempenho de um atleta esteja de acordo com seu potencial, é necessário que os treinos físicos sejam propostos de acordo com o seu perfil genético. 

Assim se consegue tirar o melhor de cada atleta, colocando na posição certa e fazendo, consequentemente, com que o time tenha melhor rendimento dentro de campo.