Durante o atendimento nutricional, um dos fatores para a definição de condutas alimentares é a predisposição genética do paciente para o aparecimento de doenças.

Dentre as condições clínicas que mais chamam a atenção nos atendimentos, vamos falar sobre a predisposição genética à obesidade.

O que é predisposição genética a obesidade?

Imagine que João sempre teve dificuldades na perda de peso e, mesmo cuidando da sua alimentação e mantendo prática de atividades físicas regularmente, sempre apresentou sobrepeso.

Já Vitor, amigo de João, que possui uma alimentação desregrada e consome guloseimas com frequência, em contrapartida, nunca teve problemas com seu peso, mesmo sem uma rotina bem definida de atividades físicas.

Isso acontece porque algumas pessoas, assim como João, possuem uma predisposição genética à obesidade.

A predisposição genética à obesidade ocorre devido a polimorfismos genéticos relacionados ao acúmulo de gordura corporal e à metabolização de carboidratos.

As pessoas que têm essa predisposição genética correm maiores riscos de apresentar excesso de peso ao longo da vida e todos os problemas decorrentes disso, o que implica em maiores cuidados com a alimentação.

Contudo, uma predisposição não deve ser levada como uma determinação, um ponto final, ou uma sentença para a vida toda.

Explicaremos isso um pouco melhor mais adiante.

Os genes e a obesidade

Alguns genes estão diretamente relacionados à obesidade, influenciando na forma como o organismo reage ao consumo de gorduras, especialmente as saturadas.

Além disso, existem os genes que atuam indiretamente, estando associados ao metabolismo de macronutrientes, podendo influenciar no excesso de peso e obesidade. Veja quais são os genes relacionados com a obesidade:

Gene FTO

O gene FTO é considerado “o gene da obesidade” pois está ligado à massa gorda em crianças e adultos.

Ele é responsável pela síntese da enzima desoxigenase dependente de alfa-cetoglutarato, que é ativa no cérebro em áreas ligadas à compulsão alimentar, sensação de fome e saciedade, e escolha de alimentos.

MC4R

Juntamente com o gene FTO, o MC4R é um dos que mais influenciam na genética da obesidade.

Ele está relacionado à produção de energia e ao acúmulo de gordura, podendo levar ao aumento da adiposidade corporal.

APOA2

O gene APOA2 está associado ao transporte de colesterol e à sensibilidade a gorduras saturadas.

Variações neste gene podem afetar os níveis de produção da lipoproteína APOA2 e causar hipercolesterolemia. 

CLOCK

O gene Clock está relacionado à regulação do ciclo circadiano, influenciando os hábitos alimentares noturnos.

Embora ele não esteja diretamente relacionado à composição da gordura corporal, polimorfismos nesse gene podem dificultar os processos de emagrecimento e influenciar nas sensações de fome, saciedade e compulsão alimentar.

ACE

Assim como o CLOCK, o gene ACE não atua diretamente na determinação da predisposição à obesidade.

No entanto, influencia na capacidade de metabolização de carboidratos e resistência à insulina.

PPARG

O gene PPARG é responsável por codificar um receptor encontrado no núcleo das células, sendo importante na formação e desenvolvimento das células de gordura (adipócitos).

Eventualmente, ele pode influenciar no metabolismo de glicose, podendo causar excesso de gordura corporal, dependendo do estilo de vida que se leva.

O que significa ter predisposição genética a obesidade?

Ter predisposição genética à obesidade é possuir uma tendência para adquirir excesso de gordura e peso corporal ao longo da vida.

Caso essa tendência se transforme em realidade pelo estilo de vida que se adota, as chances de sofrer os efeitos desta doença crônica aumentam consideravelmente.

E isso tem grande impacto na qualidade de vida da grande maioria das pessoas.

No entanto, apresentar uma tendência ou uma predisposição à obesidade não quer dizer que a pessoa afetada certamente se tornará obesa no futuro.

Basta atenção nos alimentos que se consome, à prática de exercícios físicos, ou seja, um estilo de vida mais saudável.

Isso poderá “apagar” essa predisposição, prevenindo que a gordura e o peso excessivos se tornem reais.

O que fazer quando o paciente tem predisposição genética à obesidade?

Antes de tudo, para identificar a predisposição genética à obesidade do seu paciente, é necessária a realização de um teste nutrigenético.

Assim, por outro lado, com o resultado da análise genética proporcionada pelo teste, será possível iniciar uma conduta nutricional mais correta.

Se o seu paciente tem essa predisposição genética, o melhor a se fazer é incentivar a mudança de hábitos, a começar pela alimentação.

Uma rotina estressante seguida de longas jornadas de trabalho pode levar a uma alimentação errada, e até influenciar na escolha alimentar, muitas vezes levando ao consumo de alimentos de baixa qualidade nutricional.

Através de um bom planejamento alimentar e do fornecimento de ferramentas, métodos e informações (como os testes genéticos), você sobretudo poderá melhorar aos poucos os aspectos ambientais que levam seu paciente ao desenvolvimento da obesidade, fazendo com que a genética que predispõe a essa doença seja modulada, “silenciada”.

Sob o mesmo ponto de vista, o incentivo à prática de atividades físicas é um caminho a ser explorado.

Por fim, indique ao seu paciente algo que ele sinta prazer, como o futebol ou vôlei com os amigos, até uma caminhada no fim da tarde poderá ajudar.