Devido às mudanças de estilo de vida e aos avanços na área da saúde, a expectativa de vida da população vem aumentando. Com isso, os nutricionistas devem buscar entender cada vez mais as particularidades do envelhecimento, visando como melhorar a nutrição na terceira idade. 

Com o passar da idade, o organismo sofre alterações fisiológicas, metabólicas e funcionais importantes.

Por isso, é tão importante buscar melhor alimentação para prevenir doenças, e buscar a longevidade com qualidade de vida.

Neste artigo abordaremos as principais recomendações nutricionais e os cuidados com a saúde das pessoas idosas. Confira! 

Cuidados da nutrição na terceira idade

Por conta da idade mais avançada, as pessoas podem apresentar alterações na imunidade, nos fatores enzimáticos e na absorção de nutrientes. Isso se deve principalmente ao comprometimento da atividade de enzimas hepáticas e ao fluxo sanguíneo do fígado.

Além disso, acontece uma diminuição natural da capacidade metabólica – portanto, é preciso ter um cuidado especial com a dieta e com a prescrição de suplementos.

Abaixo, explicamos algumas mudanças que ocorrem durante o envelhecimento e que são muito importantes de serem observadas para adequação nutricional. 

Sarcopenia 

Um problema bastante comum em idosos, é a sarcopenia, caracterizada como uma síndrome progressiva de perda de massa e força muscular. Com o processo de envelhecimento, a composição corporal do indivíduo se altera, aumentando a quantidade de tecido adiposo e reduzindo o tecido muscular.

Ocorre também redistribuição de gordura no corpo, diminuindo sua presença nos membros e aumentando a concentração na cavidade abdominal (principalmente visceral). 

Na avaliação antropométrica é preciso entender que os pontos de corte do IMC para o idoso são maiores. Isto se deve à maior suscetibilidade a doenças que este grupo apresenta, necessitando, assim, de maior reserva de tecidos, que o protege contra a desnutrição. 

As modificações do tecido muscular podem ser também monitoradas a partir da medida da circunferência da panturrilha, considerada um indicador sensível de alterações musculares no indivíduo idoso. 

Além disso, através do dinamômetro pode ser aferida a força de preensão palmar, parâmetro comumente utilizado para medir força muscular geral em idosos.

A análise genética também pode nos ajudar a entender as predisposições do indivíduo quanto à uma composição de massa muscular. O gene ACTN3, por exemplo, codifica uma proteína que faz parte da constituição das fibras musculares do tipo 2 (de contração rápida), sendo associado, portanto, à força muscular.

Da mesma forma, outro exemplo é o gene PPARA, responsável pela regulação da expressão de genes relacionados à resposta imunológica e inflamatória, metabolismo lipídico no fígado e nos músculos, além da oxidação de gordura durante a realização de exercícios físicos.

Quando o genótipo está relacionado à força, isso pode implicar em menor risco do desenvolvimento de sarcopenia, principalmente se o idoso é fisicamente ativo.

Deficiência de vitamina D

A senescência também pode estar relacionada à menor funcionalidade renal, que afeta, entre outros aspectos, os níveis de vitamina D. Muitas vezes o idoso também não tem boa exposição ao Sol, o que implica em menor síntese endógena desta vitamina.

Quando há falta da vitamina D, a correta absorção de cálcio fica comprometida, o que prejudica a densidade mineral óssea, podendo levar à osteoporose. 

Além de melhorar a saúde dos ossos, a vitamina D age fortalecendo o sistema imunológico, o sistema cardiovascular e o tônus muscular. Pensando nisso, é ainda mais importante monitorar, nos exames de sangue, a hidroxivitamina D para verificar a necessidade de suplementação.

A genética pode nos ajudar a prever a maior necessidade desta vitamina, e assim adotar medidas preventivas para qualquer faixa etária, incluindo os idosos.

O gene VDR, indica se o indivíduo tem necessidades normais ou aumentadas para o consumo de vitamina D, o que ajuda a adequar seu consumo de forma mais certeira para cada paciente.

A orientação de consumo diário é de 600 UI (15mcg) para pessoas até 70 anos. E para maiores de 70 anos, recomenda-se 800 UI (20mcg). Quando os níveis séricos já indicam uma deficiência de vitamina D, as dosagens de suplementação devem ser personalizadas de acordo com o paciente. 

Menor absorção de micronutrientes

Devido a menor produção da secreção ácida no estômago em idosos, surgem alterações na absorção de nutrientes, o que leva à deficiência de micronutrientes importantes. 

A vitamina B12 (cobalamina), por exemplo, tem papel importante na síntese da molécula de DNA e da mielina, que envolve os neurônios. A privação desta vitamina pode levar a problemas neurológicos relevantes, como alteração do estado mental, perda de memória, depressão e doenças neurodegenerativas.

A falta de cobalamina se deve principalmente à sua má absorção no intestino. O gene FUT2 está relacionado aos níveis da vitamina no sangue, pois ele é responsável por uma enzima que permite que linhagens patogênicas de bactérias e vírus se liguem às células intestinais, o que as impede de absorver adequadamente a B12.

Para os adultos acima de 51 anos e idosos, considerando-se que 10 a 30% deles podem não absorver corretamente esta vitamina dos alimentos, recomenda-se a ingestão de alimentos fortificados ou a suplementação visando suprir a ingestão média estimada, segundo a EAR (Estimated Average Requirement).

Recomendações da nutrição na terceira idade 

Para idosos saudáveis, outra recomendação relevante é a ingestão de proteínas, que varia de 1,0 a 1,2 g/kg de peso por dia, quando o objetivo é manutenção e ganho de massa magra.

Para atingir essa meta, é importante considerar a fonte de proteína, além da distribuição e fracionamento ao longo do dia. Em alguns casos pode ser necessária a suplementação proteica, uma vez que podem ter dificuldades de mastigação de carnes e a diminuição da aceitação de alimentos fontes de proteínas.

Por fim, vale ressaltar a importância de planos alimentares saudáveis e balanceados, baseados em guias alimentares, que sejam adequados à aceitação, condições digestivas, e condições de mastigação individuais de cada paciente.

Elas devem ser respeitadas e consideradas no planejamento e nas prescrições, para que os idosos possam desfrutar de uma senilidade longa e saudável.

Referências

CUPPARI, Lilian. Nutrição Clínica no Adulto. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar – Nutrição – Nutrição Clínica no Adulto – 3ª Ed. 2014 – Lilian Cuppari