Nosso comportamento influencia muito o modo como comemos, e muitas vezes mal percebemos isso. Para ajudar nessa compreensão e como reduzir seu impacto em nossa saúde é que surgiu a Nutrição Comportamental.

Esta é uma área relativamente nova cujo intuito é associar comportamentos alimentares a uma alimentação balanceada, de qualidade.

Porque quando bate o estresse, a ansiedade, a tristeza, e até a euforia, geralmente recorremos à comida como forma de satisfazer as emoções.

A partir daí começam os problemas de saúde e o sobrepeso, o que pode tornar ruim a relação que se tem com a comida. 

Para entender um pouco sobre a Nutrição Comportamental e como a Genética tem papel nesse cenário, convidamos a nutricionista Vanessa Gama para falar do assunto.

Se você se interessa pelo tema, confira essa breve entrevista!

A importância da Nutrição Comportamental

Vanessa, qual a importância da abordagem comportamental na avaliação nutricional e no acompanhamento do paciente?

Vanessa Gama: A cada dia parece que se torna mais difícil a perda de peso, nosso mundo é obesogênico.

Vivemos rodeados de alimentos ultraprocessados, temos uma vida corrida que muitas vezes não permite qualidade de tempo para uma alimentação adequada.

Muitos optam pelo fast food justamente pela falta de tempo, e os aspectos emocionais estão cada dia mais complicados, o que também conta para uma alimentação menos saudável.

Foi-se tempo em que pensávamos ser fundamental a contagem de calorias ou de macronutrientes para o emagrecimento.

Hoje é fato que mesmo com o melhor dos planejamentos e mais assertivo tratamento do ponto de vista da Nutrição de Precisão, emagrecer sem a análise e efetiva mudança de comportamento é quase como nadar, nadar e morrer na praia.

Apesar da grande quantidade de informações sobre alimentos e dietas, as pessoas continuam estabelecendo comportamentos disfuncionais com a comida.

Assim, a Nutrição Comportamental é peça fundamental que pode mudar essa relação, fazendo com que as pessoas veem o ato de comer natural, sem culpa e, por que não, prazeroso.

Essa área de nutrição considera aspectos emocionais, fisiológicos e sociais da alimentação e quer mudanças não só do que se come, mas de como e o porque.

A Nutrição comportamental e os fatores genéticos

Como os fatores genéticos podem influenciar nas mudanças de comportamento e, consequentemente, nas mudanças dos hábitos alimentares?

Vanessa Gama: É sabido que o comportamento pode ser moldado e mudado por alterações de crenças e de hábitos, mas o fato é que fatores genéticos exercem influência nesses aspectos.

Polimorfismos em genes como COMT, CLOCK, MC4R, MTHFR, por exemplo, podem ser determinantes em um acompanhamento nutricional.

Todo e qualquer tratamento tem maiores chances de sucesso quando são considerados aspectos não só clínicos e comportamentais, como também genéticos. Quanto mais informações, melhor.

E saber que um paciente pode ser compulsivo não somente por causa do contexto, mas porque existem variações genéticas, como nos genes COMT e MC4R, pode mudar toda a abordagem.

Em casos assim, por exemplo, a abordagem comportamental pode gerar um desfecho favorável por conta da modulação genética.

Por que identificar variações genéticas relevantes no comportamento alimentar pode trazer ganhos ao atendimento do profissional da nutrição?

Vanessa Gama: Porque a condução do caso e possibilidade de adesão e sucesso no tratamento tornam-se maiores.

Mudar o relacionamento com o alimento já não é algo tão simples para a maioria das pessoas, especialmente para aquelas que apresentam disfunções há anos.

Mas observe que além dos aspectos comportamentais, psicológicos, existem também os fisiológicos e metabólicos.

Logo, identificar polimorfismos e modular a expressão genética é um caminho que, sem dúvidas, suaviza o tratamento e acelera a conquista de resultados.

Quais estratégias o profissional da nutrição pode utilizar para modular e lidar com os genótipos de risco que afetam o comportamento?

Vanessa Gama: Como expliquei anteriormente, alguns polimorfismos podem estar diretamente relacionados a aspectos que influenciam no comportamento, como acontece nos genes MC4R, COMT, CLOCK e FTO.

Polimorfismos de risco no gene FTO podem desencadear mais fome, no MC4R mais chances ao “comer emocional”, no COMT e MTHFR, mais ansiedade, e no CLOCK maiores chances de comer a noite.

As estratégias nesses casos podem ser diversas e, claro, variam de acordo com os polimorfismos encontrados.

Mas em linhas gerais, é possível modulá-los com atividade física, dieta anti-inflamatória e rica em fibras, estratégias de percepção da saciedade, como o mindful eating, autoconhecimento, controle de estresse e a meditação.

Também é possível considerar suplementações, principalmente de metilfolato, metilcobalamina, ômega-3, cromo, magnésio, piridoxal-5-fosfato, curcumina, L-teanina, Ashwagandha , Rhodiola rosea, Crocus sativus, Mucuna pruriens, coenzima Q10 e ácido lipóico.

Importante lembrar

Vale lembrar que para todo e qualquer resultado mais assertivo nas modulações genéticas, é recomendável que análises sejam feitas pontualmente, considerando cada genótipo apresentado.

Para ter acesso às informações que vêm dos genes, o paciente deve fazer um teste nutrigenético, realizado com uma simples coleta de saliva, que é enviada a um laboratório especializado em genética.

Lá são identificadas as variantes que indicam como o organismo tende a responder aos nutrientes, a necessidade de vitaminas (como a vitamina B e vitamina D), as sensibilidades a determinadas substâncias (como álcool e cafeína), dentre outras características, como as relacionadas ao comportamento alimentar.

Ou seja, de uma forma prática e rápida é possível ter detalhes importantes que farão diferença na conduta clínica nutricional.

Para ter melhores resultados para cada um dos seus pacientes.

Vanessa Gama

Nutricionista formada pela UFRJ
Coach nutricional
Pós graduada em Nutrigenética e Nutrigenômica
Especializada em Emagrecimento baseado em Nutrição Genética e comportamental.
Eleita melhor nutricionista na cidade do Rio de Janeiro em sua área de atuação, indicada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública (INBRAP).