Hoje sabemos que a regulação dos genes é muito mais complexa do que imaginávamos. As descobertas científicas são feitas, novos conhecimentos são incorporados à genética, e uma delas deu origem ao termo modulação epigenética.

Recentemente este tema veio à tona por conta de uma nutricionista (famosa por ser ex-participante de um reality show) que deu uma declaração polêmica em uma rede de TV.

O episódio gerou uma série de comentários entre leigos e especialistas. 

E hoje viemos explicar o que isso realmente significa.

Vem com a gente nessa!

Modulação Epigenética: explicando o conceito

Para entendermos o que significa “modulação epigenética”, primeiro temos que ir ao significado das palavras que formam esse termo.

Segundo os dicionários, na música, “modulação” é a variação da altura ou intensidade da voz durante o canto.

Na física, a palavra reflete a variação da frequência ou da amplitude de ondas eletromagnéticas.

Já “epigenética” é uma forma de regulação da expressão dos genes a partir de alterações químicas do DNA sem que tenha mudança da sequência de bases. 

Do mesmo modo, juntando, dizemos que modulação epigenética é, a variação da expressão gênica por meio de mudanças na estrutura química do DNA.

O que acontece é que de acordo com o estilo de vida, temos certos estímulos (como alimentação, exposição ao Sol, nível de stress, prática de exercícios físicos, etc.) que influenciam o modo como os genes se expressam por meio da epigenética. 

Em outras palavras, os fatores ambientais geram sinais químicos que ao entrarem no núcleo das células promovem mudanças no DNA, aumentando ou diminuindo a intensidade de como os genes se expressam.

E isso, obviamente, tem um impacto forte em nossa fisiologia.

Por exemplo, se temos hábitos saudáveis, os sinais ambientais que chegam até nossas células levam à ativação ou ao aumento da expressão de certos genes que terão um final metabólico favorável ao nosso organismo.

Ao mesmo tempo, isso leva ao silenciamento (desativação) ou redução da expressão de genes com desfecho metabólico desfavorável.

Por outro lado, se temos hábitos não-saudáveis, o que acontece é o contrário, o que acaba nos expondo a riscos de desenvolvimento de doenças, como o câncer.

A polêmica

De certa forma, o conceito do termo “modulação epigenética” até seria simples de ser explicado se não fossem as confusões causadas por declarações desastrosas.

Como a feita pela nutricionista Mayra Cardi durante uma entrevista em um programa de televisão.

Nesse dia, em uma tentativa de mostrar conhecimento, ela soltou a frase:

“Muita gente não sabe o que é, então vou fazer uma explicação breve. É quando você e seu marido mudam a alimentação antes da gravidez para zerar a genética de doenças”.

A pseudo-explicação do termo foi um prato cheio para quem gosta de sensacionalismo.

O entendimento sem base de que a dieta seguida pelos pais seria capaz de afastar doenças do futuro bebê é algo que é próximo da ficção científica.   

Se por um lado, o assunto causou muita polêmica, por outro foi importante para esclarecer algo que até então parecia bastante difícil de entender.

Aqui, três coisas básicas devem ficar claras.

Primeiro lugar

Algo já explicado: mudar a alimentação pode levar a uma reprogramação global dos sinais químicos que chegam às nossas células e ativam (ou desativam) nossos genes.

Mas apenas essa mudança, sozinha, não gera um potencial grande para eliminar todos os tipos de doença que podemos vir a ter.

Segundo lugar

Durante a gravidez, os hábitos alimentares maternos têm um impacto direto na saúde do feto, uma vez que os sinais bioquímicos gerados pelo que a mãe ingere são, em sua maioria, passados ao bebê em desenvolvimento.

No entanto, dizer que uma dieta saudável pode livrar de doenças é um completo erro, já que existem outros fatores ambientais que podem influenciar a expressão dos genes de forma prejudicial.

Terceiro lugar

Diz respeito a um aspecto menos técnico e mais humano, que é a desinformação, algo presente na sociedade.

Imagine o que poderia acontecer se a comoção gerada em cima dessa polêmica matéria televisiva não tivesse acontecido.

Ou, de outra forma, se essa declaração tivesse levado a uma busca pela “modulação epigenética” no consultório de uma profissional desinformada? 

Pois é, tornar a genética mais simples de ser explicada e entendida não é missão fácil, e pode levar a erros como este.

Por isso, há que se seguir os bons profissionais, para garantir uma boa aplicação dessa ciência.

Que vem se tornando uma realidade cada vez mais comum nos consultórios.

Espero que aqui neste artigo tenhamos conseguido cumprir essa missão.