Os genes estão associados entre si de tal maneira que suas ações sempre se combinam gerando um impacto fisiológico para o organismo. E isso tem sido estudado há bastante tempo. Mas existem certas ligações mais íntimas, que acabaram ganhando o nome de “interação gênica”.

O efeito dessa interação pode ser visto de maneira mais evidente em animais e plantas, por meio de mudanças em suas cores e formas. Já na espécie humana, a maioria dessas interações (ainda) não está totalmente clara. Por isso, os exemplos não são amplos.

Neste artigo abordamos esse tema com a exposição de exemplos interessantes para você se informar melhor. 

O que é Interação Gênica? 

As proteínas codificadas por todos os nossos mais de 23 mil genes interagem em milhares de vias metabólicas que cada um de nossos órgãos usa para realizar suas funções. 

No entanto, tecnicamente, na genética, não é bem isso que a interação gênica é… 

Mas então o que ela é? 

Ao contrário do genótipo, que é resultado da interação entre dois alelos (ou versões) do mesmo gene, a interação gênica é quando existe a associação de dois ou mais genes para gerar uma mesma característica. E esses genes podem ou não estar no mesmo cromossomo.

E como é que isso acontece?

Na verdade existem várias maneiras dos genes interagirem, quer seja um gene anulando a expressão do outro, quer seja somando seus efeitos. Acompanhe os diferentes tipos abaixo:

1. Epistasia

Parece até nome de remédio, né? (rsrs) Mas esse é o tipo de interação gênica em que o alelo de um gene cancela ou anula a manifestação de outro gene. Nesse caso, o gene que suprime a ação é chamado de epistático enquanto aquele que tem sua ação suprimida é chamado de hipostático.

Um exemplo comum acontece nas galinhas: o alelo “C” do gene que determina a coloração de suas penas, pode ter sua expressão cancelada se o alelo “I” de outro gene estiver presente, fazendo que as penas não tenham cor.

No entanto, se o alelo “i” do gene epistático estiver presente, esse efeito não acontece e o alelo “C” está livre pra deixar as galinhas com plumagem colorida.

2. Poligenia (Herança Quantitativa) 

Também chamada de herança poligênica, esse tipo de interação gênica, acontece quando os efeitos de vários genes se somam ou se acumulam. Isso pode ser visto na coloração da nossa pele. A soma de diferentes genes levam à produção da melanina em diferentes quantidades, o que resulta em tonalidades diferentes de pele.

Outro exemplo é a altura: já se descobriu centenas de genes ligados à variação da estatura, sendo que é a combinação aditiva dos genes que gera o resultado final. Ou seja, quanto mais alelos que favoreçam a estatura, mais alta será a pessoa.

3. Pleiotropia

Aqui, na verdade, não há dois genes formando uma característica, mas ao contrário: um mesmo gene (chamado de pleiotrópico) se manifestando em duas ou mais características. 

Um exemplo desse caso é o gene COMT, que codifica a enzima que destrói catecolaminas, como a dopamina. De acordo de como gene se expressa, sua ação está ligada à resposta ao estresse, mas também a diferentes transtornos mentais, como a esquizofrenia e o transtorno obsessivo-compulsivo, ao mesmo tempo.

Genes interagindo na nutrição e no esporte

Em nossas células, o final do metabolismo que nelas acontece, é fruto da interação entre as proteínas codificadas pelos genes quer seja uma relação entre si, quer seja uma relação com outros elementos celulares, como lipídios e carboidratos.  

Não tem muito a ver com o termo técnico “interação gênica”, mas tem relação com a interação dos processos bioquímicos que acontecem no ambiente celular. E aí a genética tem participação. 

Isso porque dependendo dos alelos que uma pessoa carrega, ela responderá diferentemente aos estímulos, gerando uma resposta metabólica que pode ser diferente entre as pessoas.

E isso acontece na nutrigenética, quando o mesmo nutriente ingerido por pessoas que apresentam polimorfismos diferentes em diferentes têm impacto distinto no seu organismo. 

O gene PPARG é exemplo: ele codifica um fator de transcrição que estimula a expressão de genes relacionados ao metabolismo de carboidratos e gorduras. Dependendo do polimorfismo nesse gene, a ativação de outros genes que estão sob seu controle podem acontecer de maneira que favoreça ou não o metabolismo desses macro nutrientes. Aqui fica claro a interação entre genes.

Mas isso pode ocorrer no esporte. Por exemplo, o gene TRHR que codifica um receptor do TSH (hormônio estimulador da tireoide), que tem impacto no metabolismo muscular.

A depender do polimorfismo que a pessoa carrega, ela poderá ter um ganho de massa magra maior ou menor. Mas o crescimento muscular também depende de outros genes que atuam nesse processo… aí que se dá a interação.

Portanto:

Dizer que esses casos mostram processos de interação gênica também não está totalmente errado do ponto de vista prático.  

Nosso organismo é muito complexo e as interações moleculares acontecem o tempo todo e de várias maneiras. Apesar da genética ter crescido muito nos últimos anos, ainda há muito o que ser pesquisado e esclarecido. E nós estamos acompanhando de perto.

Referências

Wood et al. Defining the role of common variation in the genomic and biological architecture of adult human height. Nature Genetics, 2014.