A estimativa do gasto energético basal de cada pessoa é uma das principais etapas que o nutricionista utiliza em sua prática. A partir desse cálculo ele embasa a conduta nutricional e as estratégias alimentares que vai utilizar para cada paciente. No entanto, é preciso entender quais os métodos mais adequados para cada paciente. Quer saber mais sobre isso  e aprender a calcular? Vamos te ajudar nesse artigo! 

O que é Gasto Energético Basal 

A princípio vamos entender melhor o que é o Gasto Energético Basal (GEB), ou Taxa Metabólica Basal  (TMB) como também é chamado. Nada mais é que a quantidade mínima de energia (em kcal) necessária para que nosso corpo mantenha seus  processos vitais em funcionamento, como a respiração, a circulação, o metabolismo celular e a conservação de temperatura corporal. 

Esse gasto corresponde a aproximadamente 60 a 75% do gasto energético diário total. O restante refere-se ao gasto vindo do efeito térmico do exercício físico, o efeito térmico dos alimentos que consumimos e da termogênese facultativa (adaptações às variações de temperatura que podem modificar o gasto energético).

Visto isso, para que nosso organismo se mantenha em funcionamento adequado e sem prejuízos, a alimentação deve ser suficiente para atender às demandas de energia do GEB.

Na prática, o profissional estima o valor do gasto energético total (GET) para definir o planejamento alimentar do paciente, ou seja, a soma do GEB com os outros fatores que contribuem para o nosso gasto energético diário. Mas vamos falar mais adiante sobre esse cálculo.

Principais fatores que influenciam o Gasto Energético Diário

Antes de saber como podemos calcular o gasto energético basal e total de uma pessoa, é importante sabermos quais os principais fatores que podem contribuir para o aumento do gasto energético diário. 

A quantidade de massa magra corporal é um dos principais determinantes apontados por influenciar os valores do GEB. A partir daí conclui-se o porquê das diferenças entre homens e mulheres quando se fala de gasto energético, uma vez que na grande maioria os homens possuem uma quantidade maior de massa muscular. 

Assim, conseguimos saber que a idade, o gênero e a massa magra são os principais responsáveis pelas variações nos valores de gasto basal. Outro responsável importante no gasto energético diário do indivíduo é o efeito térmico do exercício físico, sendo este o segundo maior componente do gasto energético total.

O efeito térmico dos alimentos corresponde a aproximadamente 10% do nosso gasto energético diário, que ocorre principalmente devido à demanda de energia para que nosso corpo realize as atividades de digestão, metabolismo, transporte e armazenamento de nutrientes.

Por fim, temos a influência da termogênese facultativa, em que mudanças ambientais (temperatura, altitude, estresse emocional, entre outros) podem interferir nas variações do gasto energético.Porém ela representa apenas 5% do nosso gasto diário total.

Como Calcular o GEB 

Pois bem, visto que agora que já conseguimos identificar o que é e o que pode influenciar os valores de gasto energético basal de cada indivíduo, precisamos entender quais são as maneiras possíveis de obtermos esse valor.

Um dos métodos mais acurados para fazer essa medição é a calorimetria indireta, que é um aparelho que mensura a quantidade consumida e produzida de CO2 e O2 para estimar este gasto energético basal. No entanto, esse método tem um custo operacional muito alto, não sendo acessível para a maioria dos profissionais na clínica.

Dessa forma, atualmente contamos com várias equações preditivas para estimativa de gasto energético (basal ou total, dependendo da fórmula) para que possamos estimar isso na prática. Tais fórmulas utilizam variáveis como peso, idade, altura e nível de atividade física.

Começaremos por uma das mais utilizadas, Harris Benedict (1919). A mesma é mais indicada para indivíduos saudáveis, eutróficos e ativos, uma vez que pode ser que ela superestime os valores em pessoas com obesidade.

Homens: TMB (kcal/dia) = 66 + ( 13,7 X P) + (5 X E) – (6,8 X 1)
Mulheres: TMB (kcal/dia) = 655 + (9,6 x P) + (1,7 x E) – (4,7×1)

TMB: taxa de metabolismo basal ; P: peso (kg) ; E: estatura (cm) ; I: idade (anos).

Para indivíduos com sobrepeso e obesidade, pode-se utilizar a fórmula Mifflin-St Jeor (1990). Ela também utiliza peso, altura e idade. E pode ser um bom método de cálculo para indivíduos com objetivo de emagrecimento, e também em eutróficos.

Homens: (10 x P) + (6,25 x A) – (5,0 x I) + 5
Mulheres: (10 x P) + (6,25 x A) – (5,0 x I) – 161

P: peso (kg) ; A: altura (cm) ; I: idade (anos); 

Mais algumas opções de uso de fórmulas preditivas são as equações de Cunningham e Tinsley, indicada principalmente para atletas e praticantes de exercício físico. Elas utilizam o peso da massa livre de gordura (MLG) em seu cálculo.

Cunningham (MLG): (22 x MLG) + 500
Tinsley (MLG): (25,9 x MLG) + 284

MLG: massa livre de gordura (kg)

Considerações sobre o Gasto Energético Basal 

Mostramos aqui alguns exemplos de equações para estimativa de gasto energético basal e a aplicação de cada uma. No entanto, existem outras opções e cada profissional deve escolher a mais adequada de acordo com o indivíduo a ser avaliado.

Algumas delas calculam o gasto energético total, como a equação da FAO/OMS. Porém os exemplos que trouxemos se baseiam no cálculo do gasto energético basal. Logo, o nutricionista deve investigar qual o grau de atividade física do seu paciente e multiplicar pelo valor obtido de GEB, a fim de estimar o gasto energético total diário.

Por fim, é importante ressaltar que tais equações são estimativas, e que servem para guiar os profissionais a dar um primeiro passo para compor o  planejamento alimentar do paciente. 

É importante sempre ter em mente que cada indivíduo é único, e cabe ao nutricionista escolher a metodologia mais adequada e indicada para cada um, e fazer adaptações  na sua estratégia conforme as avaliações e os resultados alcançados para  cada paciente. 

Referências

Guia de Nutrição Clínica no Adulto. Lilian Cuppari.  3. ed. Barueri, SP. Manole, 2014. 

Tavares et al. Utilização de diferentes equações e métodos para estimativa de gasto energético basal e total de praticantes de atividade física adultos: estudo de caso. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v10. n55. p43-49. 2016.

Wang et al. Specific metabolic rates of major organs and tissues across adulthood: evaluation by mechanistic model of resting energy expenditure. 2010

Dudu Haluch. Qual a melhor equação para estimar a taxa metabólica basal?. Disponível em: https://duduhaluch.com.br/qual-a-melhor-equacao-para-estimar-a-taxa-metabolica-basal/