O ciclo circadiano, também conhecido como ritmo circadiano, é o mecanismo pelo qual nosso organismo se regula entre o dia e a noite.
A partir dele, nossos processos fisiológicos são comandados para que nosso corpo consiga acordar, sentir fome, estar ativo, ficar com sono, e assim por diante.
O período de 24 horas, ou seja, o dia completo é que dita o nosso ciclo circadiano.
Mas algumas pessoas conseguem “funcionar” melhor durante o dia outras, durante a noite.
E esse processo é regulado por vários fatores, incluindo a genética.
A curiosidade bateu para conhecer melhor sobre este assunto?
Então acompanhe o artigo preparado com os pontos mais importantes nesse tema.
Qual a sua importância
O ciclo circadiano é o ciclo de 1 dia ao qual estamos expostos.
Durante o dia, a luz, e durante a noite, a ausência dela, influenciam o nosso “relógio biológico”, ditando como nosso organismo se comporta no ao longo das 24 horas que tem o dia na Terra.
É o meio pelo qual o organismo dos mamíferos se adapta à vida na Terra, cuja intervenção do Sol provocam ciclos de luminosidade e escuridão.
O relógio interno que todos nós carregamos estabelece o ritmo do nosso corpo durante o período de 1 dia, regulando nossas atividades diurnas e noturnas.
Ele determina uma série de comportamentos, como nosso horário de sono, o estado de alerta e atividade, o momento que acordamos.
O ciclo circadiano também exerce influência em nossa pressão arterial, no nosso apetite, na temperatura do nosso corpo, e nos hormônios que produzimos e liberamos na corrente sanguínea.
A partir disso, o ciclo tem influência direta sobre nosso metabolismo e como nos comportamos durante os períodos do dia.
Mais que interferir em nosso humor ou a energia que empregamos nas atividades realizadas de dia e de noite, o ciclo circadiano pode nos facilitar a situações que podem levar a doenças.
E o dia a dia?
Conforme o dia nasce, uma série de eventos acontecem em nosso organismo: liberamos cortisol, que nos ajuda a despertar.
Durante o dia, a insulina nos auxilia nos processos de uso da glicose que obtemos a partir dos alimentos.
Durante a noite, há produção de melatonina que prepara nosso corpo para dormir.
Dessa forma, os distúrbios pelos quais passamos em nossas vidas, sejam eles alimentares, o estresse do dia a dia, a privação de sono, podem levar sérios desequilíbrios hormonais.
Se durar por meses ou mesmo anos, essa “desarmonia” deixa nosso corpo vulnerável a doenças, desde infecções, até casos graves como doenças cardiovasculares e câncer.
Ciclo circadiano e as diferenças individuais
Nos seres humanos em geral, o controle sobre as escolhas para realização das atividades diárias está em nosso cérebro.
Numa região chamada de núcleo supraquiasmático, do hipotálamo, é que se encontra o centro de comando que nos dá condições de preferirmos o dia ou a noite como momento para nosso melhor desempenho.
Você já deve ter notado que algumas pessoas têm maior disposição durante a manhã, acordam cantando.
Enquanto isso, outros mal abrem os olhos e já estão de mau humor.
Ao contrário, alguns têm uma energia muito maior à noite, realizam atividades até de madrugada, ao passo que outras pessoas dormem super-cedo e realizam suas atividades perfeitamente apenas antes de escurecer.
Essas características formam o que chamamos de cronotipo, ou seja a tendência que cada pessoa tem para sentir-se mais disposta ou cansada, com mais ou menos fome, de acordo com o período do dia.
Ter hábitos mais diurnos ou mais noturnos interferem em todas as atividades diárias.
E isso acontece por vários fatores, como a luz, já dito antes.
No entanto, estudos apontam que a genética é um dos eixos pelos quais o cronotipo individual está condicionado.
Muitos genes já foram investigados como sendo a causa pela qual as preferências diurnas ou noturnas são melhores para cada pessoa.
As décadas de 1970 e 80 foram cruciais para o desenvolvimento de experimentos que mostraram a participação de genes no controle do ciclo circadiano.
O desenvolvimento de pesquisas em cronobiologia avançou muito nos últimos anos.
Tanto é que recentemente (em 2017), três pesquisadores da área foram contemplados com o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia por descobrirem mecanismos moleculares que explicam o ciclo circadiano, presentes em todas as nossas células.
Ciclo circadiano, genética e nutrição
Um dos genes bastante estudados é o gene CLOCK – nome sugestivo para aquele que ajuda a controlar nosso relógio biológico!
Estudos mostram que determinadas variantes desse gene predispõem a hábitos mais noturnos, fazendo com que seus portadores experimentem privação de sono por períodos mais prolongados e/ou com maior frequência.
Estudos mostram que comparados ao cronotipo diurno, essas pessoas levam mais tempo para pegar no sono (conseguem dormir mais de 1 hora depois) e conseguem dormir por menos tempo durante a noite.
Alelos de risco para esse gene também têm sido associados a um maior Índice de Massa Corporal (IMC), à maior dificuldade para perder peso, a maior risco de obesidade e até de desenvolvimento da síndrome metabólica.
A redução do sono também interfere com a quantidade de grelina no sangue (hormônio produzido no estômago chamado de “hormônio da fome”).
Isso leva a mudanças de comportamento alimentar, sobretudo levando em maior frequência de sensação de fome.
E aí é que a coisa perde o controle, pois alimentação e sono tem uma relação bastante próxima.
Por outro lado, aqueles que não possuem essas variantes estão ligados a atividades predominantemente diurnas, incluindo os hábitos alimentares.
Por fim, essas pessoas tendem a apresentar menores níveis de insulina no sangue, e também apresentam menor risco de desenvolver resistência à ação deste hormônio.
Isso ajuda a entender porque algumas pessoas apresentam maior IMC e menor sucesso para perder peso quando fazem dietas, mesmo que sejam as mais restritivas.
Por isso, saber como o organismo funciona a partir da genética individual é tão importante.
E a biologia do nosso relógio interno tem tudo a ver com isso.
Biomédico, PhD em Genética
Fundador da DGLab