Desde 1960, com a aprovação clínica da primeira pílula anticoncepcional, a vida da mulher moderna mudou bastante.

O método contraceptivo facilita a permanência da mulher no mercado de trabalho, fazendo parte do movimento de emancipação feminina.

Hoje em dia, aproximadamente 25% das mulheres em idade reprodutiva usam as pílulas como método contraceptivo.

Com os avanços dos estudos, elas passaram a não ser usadas apenas para evitar a gravidez, mas também para silenciar sintomas e tratar questões de saúde da mulher.

Primeiramente, entre benefícios e prejuízos que elas dão, o fato é que trazem alterações hormonais ao corpo feminino.

Portanto, merecem atenção especial na hora de avaliar e orientar a conduta nutricional.

Continue lendo para entender melhor sobre os mecanismos de ação dos anticoncepcionais e como prescrever orientações precisas para mulheres adeptas desse medicamento.

Mecanismo de ação do anticoncepcional

As pílulas contraceptivas orais mais comuns são compostas de substâncias químicas iguais a dois hormônios femininos: o estrogênio e a progesterona.

O mecanismo das pílulas ocorre principalmente em decorrência da ação da progesterona, que por feedback negativo, atua no hipotálamo, reduzindo a secreção de FSH e LH, que por sua vez inibem o desenvolvimento folicular e consequentemente a ovulação.

Por conta disso, a mulher não entra no período fértil, e portanto, evita uma possível fecundação e gravidez.

A diferença entre os diversos tipos de pílula encontradas no mercado está na proporção e quantidade hormonal combinada em cada uma.

Independente disso, esses hormônios apresentam um índice de eficácia de 97% contra a gravidez, quando usados corretamente.

Desse modo, no caso das pílulas orais, devem ser tomadas diariamente, de preferência sempre no mesmo horário para dar mais segurança.

Algumas pílulas são combinadas de estrogênio-progesterona, enquanto outras são formadas só por progesterona.

Nesse sentido, cabe ao médico mostrar a melhor indicação para cada caso, individualmente.

Quais os benefícios da pílula anticoncepcional?

O principal benefício do medicamento é seu funcionamento contraceptivo de forma acessível, que permite o controle de natalidade e o planejamento familiar. 

Isso empoderou muitas mulheres, dando maior decisão sobre o momento ideal para ter filhos, tendo em vista a rotina de trabalho e as outras ambições de vida.

Quando tomado regularmente, o anticoncepcional estabiliza os hormônios reprodutivos, dando previsibilidade ou até falta das menstruações (no caso das pílulas de uso contínuo).

Desse modo, com a estabilidade hormonal dada por esses medicamentos, as mulheres tiveram maior controle sobre seu corpo.

Isso permitiu que as mesmas tivessem maior liberdade sexual, diante do entendimento da fecundidade como fenômeno biológico, e não como uma fatalidade.

Além disso, as pílulas são procuradas para silenciar alguns sintomas típicos do ciclo menstrual, como:

  • Cólicas fortes
  • TPM ou tensão pré-menstrual
  • Fluxo menstrual intenso
  • Ciclos irregulares (muito longos ou muito curtos)

Por vezes, esses sintomas podem estar ligados a outros problemas de saúde, como a síndrome do ovário policístico, endometriose, ou adenomiose por exemplo.

Por isso é importante investigar os sintomas com um profissional ginecologista para avaliar a necessidade de intervenções específicas.

Quais os prejuízos metabólicos?

Apesar das vantagens ditas acima, o uso das pílulas também é criticado por alguns profissionais, que preferem não interferir no sistema reprodutivo natural feminino, indicando formas mais naturais de contracepção.

Por isso, outros métodos contraceptivos têm sido priorizados por muitas mulheres, tendo em vista os benefícios que os métodos não-hormonais podem dar à saúde.

Entre os principais riscos estão os de eventos cardiovasculares e formação de coágulos, que podem levar casos mais sérios, como episódios de trombose ou até embolia.

Dessa forma, dentre outros efeitos colaterais provocados pelo uso de contraceptivos, são:

  • Redução da libido
  • Alterações na pele
  • Alterações psicológicas
  • Dores de cabeça
  • Náuseas
  • Sensibilidade mamária

A maioria dos efeitos colaterais são leves e somem com o tempo de uso, ou com a mudança para outra formulação de pílula.

Diferentes combinações de pílulas mostram diferentes riscos de trombose venosa, por mudar a cascata de coagulação.

Além disso, também estão ligados a alterações nas vias metabólicas de lipídeos e glicose.

Pensando no metabolismo de gorduras, o gene APOA2 está ligado ao transporte de colesterol, e o genótipo de risco pode mostrar predisposição à hipercolesterolemia, que também está ligado a maior risco de eventos cardiovasculares.

Dado que o anticoncepcional já está ligado a prejuízos no metabolismo lipídico, principalmente de gorduras saturadas.

Aos pacientes com genótipo de risco pode ser recomendado outros métodos contraceptivos.

Da mesma maneira que, pacientes com histórico familiar de diabetes, ligado a genótipo de risco no gene TC7FL2, que tem à sensibilidade maior a carboidratos e gorduras saturadas, devem optar por outros métodos.

Cuidados nutricionais em pacientes que tomam anticoncepcionais hormonais

O uso do anticoncepcional por um longo período exige atenção, cautela e um acompanhamento nutricional.

Em alguns casos, pode ser necessário fazer uso de suplementos para repor nutrientes em falta, como por exemplo o ácido fólico (vitamina B9).

O uso contínuo da pílula reduz os níveis de folato, ou seja, ser necessário à suplementação.

Somado a isso, algumas pessoas têm predisposição genética a menores níveis dessa vitamina.

Fazer um teste genético que avalie o gene MTHFR irá ajudar o profissional a ver a necessidade de doses maiores de folato.

Além disso, cabe maior atenção aos níveis de vitamina B12, B6, C e E, e aos níveis de zinco, selênio e magnésio.

Esses micronutrientes são fundamentais para o organismo e para a manutenção ideal da saúde, e devem ser consumidos regularmente por meio da alimentação.

Anticoncepcional engorda?

Uma das principais dúvidas que as mulheres têm sobre o uso dos contraceptivos é se causam alterações de peso, e apresentam como principal receio para seu uso, o medo de engordar.

A resposta é de que a pílula anticoncepcional por si só não causa o aumento de gordura corporal, portanto não se pode afirmar que ela engorda.

O que pode ocorrer é a retenção de líquidos, ocasionada pela carga de hormônios contida nas pílulas.

Do mesmo modo, isso pode fazer a paciente se sentir mais inchada, o que pode levar ao aumento de peso e insatisfação corporal.

Os fatores que, de fato, irão influenciar no ganho de peso são os que já conhecemos:

  • sedentarismo
  • alimentação hipercalórica
  • desequilíbrios metabólicos
  • mau manejo do estresse
  • má qualidade de sono
  • predisposição genética para a obesidade.

Alguns genes estão relacionados ao desenvolvimento da obesidade, influenciando na forma como o organismo metaboliza alguns macronutrientes, como carboidratos e gorduras saturadas, por exemplo.

O genótipo de risco no gene FTO, considerado “o gene da obesidade”, está ligado a maior compulsão alimentar, maior sensação de fome, e escolha de alimentos mais calóricos.

Em suma, junto com o gene acima, o MC4R é um dos que mais influenciam na genética da obesidade, podendo levar à predisposição a maior adiposidade corporal.

Assim, após a realização de uma anamnese detalhada, somada à investigação genética, o profissional poderá iniciar uma conduta nutricional mais assertiva, melhorando a condição de saúde dos seus pacientes.

Referências

Figueiredo, et al. Alterações metabólicas decorrentes do uso de contraceptivos hormonais: uma revisão integrativa de literatura. Research, Society and Development, 2021.
Lara. Period Repair Manual: natural treatment for better hormones and better periods. Lara Briden; 2º edição, 2017.